quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Mitologias de Barthes - Sou produtora, mitóloga ou leitora?

Pretendo neste post, fazer reflexões sobre textos do livro "Mitologias" de Roland Barthes (1956).
Digo textos, porque esgotei meu pensamento com os primeiros (da luta livre aos brinquedos) e resolvi partir para o último "O Mito - Hoje".
Leitura esta, causadora de dores-de-cabeça (intelectuais, se possível) e intenso cenho franzido.
Faltaram exemplos. Não os dele, mas exemplos que eu pudesse entender melhor.
Confusão de ideias, conceitos e reflexões. Leitura difícil. (pergunto-me se só foi pra mim!)
Enquanto lia, só me perguntava se eu era produtora, mitóloga ou leitora de mitos.
Diante da experiência na graduação, deduzo que apenas leitora.
Fui bastante resistente em resistir.
Eu gosto dos brinquedos de plástico e filmes tolos. Qual o problema?
Talvez aqui resida a minha melhor oportunidade de falar de um mito contemporâneo (se ele existe de fato), o mito do estudante de cinema. (ou do estudante universitário em geral ou do mestrando em geral).
Primeiro, vamos ao mito de Barthes, começando pela pergunta básica: O que é mito?
Recortando seu texto, aplicando a morte do autor, nascimento do leitor (eu), entendo por mito uma ideologia. (vou tentar facilitar) Mito é uma fala, mas não qualquer, uma fala que necessita de condições especiais para que a linguagem se transforme em mito. É um modo de significação, uma forma. Tudo pode constituir um mito (podemos falar das coisas livremente), se houver possibilidade do discurso, afinal o mito só pode acontecer quando o objeto já tem definição e sentido prévio, pois o mito deforma um sentido já existente. Dá um novo sentido.
Um mito pode ser antigo, mas não necessariamente eterno.
Depende da História, pois é nela que se constitui.
Baseia-se em transformar História em Natureza. (eu arriscaria dizer que é transformar hipótese em verdade absoluta, mas como ele não disse isso, só arrisco dizer)
O mito não é o real, propõe o irreal como real.
Não se define pela mensagem do objeto, mas pela maneira como a profere.
Mito é um valor, uma metalinguagem, uma significação.
Toda significação recorre à semiologia, que eu sintetizaria na relação entre significante (objeto, imagem, vazio), significado (conceito) e signo (sentido).
O conceito do mito ao sentido é a deformação.
Seu ponto de partida é o ponto terminal de um sentido.
É apropriação do conceito, é fala roubada, destituída, despolitizada.
Possui motivação, recorre à falsa natureza.
Tem efeito imediato, na leitura esgota-se na primeira vez.
Mito é uma fala excessivamente justificada. É o senso comum. (é?)
Diante do que é mito, Barthes oferece três definições da relação do homem com o mito:
1.Produtor do mito (parte de um conceito e procura uma forma pra ele)
2. Mitólogo (decifra a deformação e a compreende)
3.Leitor do mito (vive o mito como uma história verdadeira e irreal - senso comum, talvez?)
Inevitável perguntar-me: quem sou eu diante do mito?
Barthes parece ser indiscutivelmente o mitólogo. Produtor talvez? Também.
E eu, pareço ser a leitora. Aquela que vive o mito. Entrega-se a ele. Delicia-se.
E sinto culpa de não sentir culpa nenhuma. Deveria sentir culpa?
Deveria sentir culpa de acreditar nos mitos? De vivê-los?
Ao renegar não me torno um mito também? Como aconteceu com o surrealismo?
Com o não-grau zero? Com a esquerda (que não é revolução)? Direita, reto, frente, atrás?
A esse ponto, sinto que entendo Barthes. Entendo sua preocupação e ainda prefiro não.
Prefiro não resistir. Prefiro não habitar lugar nenhum.
Nem cult ou não-cult. Só eu.
No ato de desmitificar, reside o mito.
Ao fazer cinema, espera-se que eu entenda de cinema, faça cinema, veja cinema, o tempo todo, por completo e eu simplesmente não sou só isso. Pareço carregar um fardo de ter visto todos os filmes que existem, quando vi os que me interessavam. Vi os que eu queria ver. E que o tempo e espaço me permitiram ver.
Se não me interesso por determinado filme, movimento revolucionário, diretor, ideologia, não sou merecedora de estudar cinema? Como o arquiteto que não desenha tão bem, ou o médico que escolhe apenas uma especialidade?
Na terras dos estudos, sempre se espera algo. Um perfil, uma atitude.
Ou até uma não-atitude. Uma resistência talvez.
Eu poderia falar de muitas coisas, (se é que sei identificar algum mito) como os programas "Pânico na TV" e "CQC" que se propõem, de uma certa forma, a desmitificarem o mito das estrelas/celebridades (em suas posições de status, referências na moda, padrões de beleza, ícones da perfeição, mistificados pela mídia) colocando-as em situações reais, naturais, ou pelo menos, situações distantes dos imaginários coletivos, constrangeando-as, ridicularizando-as, provocando-as, mostrando um lado até então desconhecido. Mas ao fazer isso, cria-se um novo mito, um novo sentido, um novo padrão, repetido e esgotado incansalvemente. Cria-se uma nova natureza, quando não passa de história, de irreal, de imagens manipuladas, porque o real não existe no recorte, na edição, limitado por tempo e espaço definido. (não pra mim!)
O real é o real. Quando um espectador (como um leitor) se dispõe a colocar a sua leitura diante de um personagem (todos somos personagens diante das câmeras, sabendo ou não disso), não está lendo o real, está lendo o que quer ler.
Também poderia falar das tendências de moda, que se inspiram nos movimentos de resistência, ideologias e revoluções, criando modismos, como feito com o punk, hippie, indie. E logo, vestir-se de tal maneira, representa tal ideologia, descolada do seu sentido original, seu contexto histórico, esvaziando sua significação. E aquele que acreditava em tal ideologia, acaba cedendo, para não ser confundido com o senso comum. Deixando de se vestir como gostava ou acreditava, para não se render ao senso comum. Até esta postura, foi mistificada. Na roupa, na maneira de se vestir, agir, chorar, sentir.
Poderia falar de muitas outras coisas, como a linguagem permite, mas em tudo parece haver o vazio. Se não agora, possivelmente depois. E o que parece realmente importar para alguns diante desta constatação é a necessidade da revolução. Que nunca se transforma em mito, pois quando se transforma, deixa de ser revolução.
Lendo novamente o título, questiono-me novamente? Quem sou eu no mito de Barthes?
Sou a produtora, a mitóloga ou a leitora? Talvez os três, não sempre, nem ao mesmo tempo.
Talvez eu ajude a produzir, decifre em alguns momentos e viva intensamente os mitos em outros. E continuo me perguntando, qual é o problema?


2 comentários:

  1. Nossa, esse livro me deu uma dor de cabeça, não entendi praticamente nada! Acabei me confundindo todo!

    ResponderExcluir
  2. Li cerca de 13 artigos, inclusive partes do livro do Barthes (no qual faltam exemplos compreensíveis), para apresentar um trabalho da faculdade, e o teu texto foi o único que me ajudou a entender alguma coisa.

    Obrigada !

    ResponderExcluir