quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O que teria Montaigne a ver com educação?

Livro: Introdução à Filosofia da Educação - Temas Contemporâneos e História

Síntese-Ensaio do texto:

FILOSOFIA, EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS E PAPEL DO PRECEPTOR EM MONTAIGNE

de Divino José Da Silva

Montaigne e seu tempo

Montaigne viveu durante a época do Renascimento (séc. XVI), período em que o homem desenvolveu uma nova percepção sobre a relação com o mundo e com os outros homens, e começa a atribuir a si mesmo a responsabilidade pela condução do destino. (preocupação com a formação do ser/o homem faz seu próprio destino/valorização da experiência sensível)

No lugar da certeza, a dúvida

Nessa busca pela formação do ser, percebeu-se que o homem é a chave para decifrar o mundo e as coisas. Percebeu-se que não há verdade absoluta e que o homem não sabe tudo, muito menos é o centro de tudo. E é na fragilidade de saberes constituídos em nome da verdade, que Montaigne apresenta contradições.

Mais uma vez, prevalece o discurso de que o homem “lê” o mundo a partir de sua experiência sensível. (Roland Barthes em “A morte do autor”) E nessa leitura ele coloca suas duas naturezas fundamentais: racional e irracional; consciência e inconsciência; bom e mau; divino e ciência, e é no conflito entre as duas que reside o equilíbrio. Montaigne diz que os impulsos influenciam na forma de ser (ética, moral, valores, cultura, etc), portanto cada pessoa interpreta/processa/percebe de forma diferente das outras.

Diante desta reflexão de que cada pessoa decifra o mundo e as coisas a partir de sua experiência sensível, Montaigne sugere que se desfrute de tudo sem necessariamente se submeter. Sugere conhecer, experimentar, investigar, não apenas imitar, mas buscar nas experiências, renovação eclética, política e moral. Que cada pessoa possa julgar as coisas e o mundo da sua maneira e o papel do preceptor (professor/educador) é justamente disponibilizar as ferramentas para esse fim.

Ensaiar a vida talvez. O autor diz que Montaigne foi o primeiro a usar a palavra “ensaio” para designar um estilo literário. Escrita que representa um modo de pensar a relação entre o “eu” e o mundo. Pode significar experiências, “jogo da imaginação e da inteligência”, “passeio fácil entre idéias e recordações”, “tentativas apenas esboçadas”, “um exercício de escrita, rascunho, algo não-definitivo”, talvez a própria significação de viver, sempre instável, montanha russa de emoções, entre altos e baixos, trajetória sempre inacabada. Ensaiar é interrogar o presente, expor a desconfiança, duvidar dos sentidos, idéias e verdades. Tudo é questionável!

A educação das crianças e o papel do preceptor em Montaigne

Sem certezas, como falar de educação? Tarefa difícil considera Montaigne, afinal se cada indivíduo constrói sua verdade e visão de mundo, como lecionar? Como direcionar o olhar?

Para Montaigne, a criança não deve ser submetida a decorar e memorizar, mas experimentar. O verdadeiro aprendizado está em fazer o aluno despertar o olhar, aguçar os sentidos, exercitar a capacidade de julgar, refletir, analisar com os próprios olhos. (talvez aqui resida o lugar da disciplina de Artes, responsável pelo despertar do olhar crítico, que observa, julga, analisa e reproduz. Que decodifica, desconstrói, reconstrói, reproduz releituras).

O papel do professor/educador é estimular o aluno a elaborar a consciência de si mesmo diante do mundo. Talvez ensinar a filosofar, refletir. (é possível?) Colocar um pouco de si mesmo no “outro”, nas coisas, no mundo, e nessa mistura, apresentar um novo olhar, uma nova forma de pensar, sem buscar uma verdade absoluta, talvez apenas buscar, apenas tentar, procurar, investigar, afastar/aproximar.

Ainda que o professor possa estimular o despertar do olhar, para Montaigne cada criança é diferente uma da outra, portanto não pode haver apenas uma maneira de ensinar, não há uma lição que possa ser aplicada da mesma forma para todos.

A educação (ideal talvez) necessita de flexibilidade, pois não é o conteúdo o que mais importa, mas o processo de construção do aprendizado, o despertar do olhar, o percurso do saber. (e às vezes esse saber demanda tempo, maturidade, processamento, associação, experimentação...)

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