quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Apontador de lápis

Mais de cinco vezes. Apontei o lápis mais de cinco vezes. (prefiro lápis sempre)
Os dedos escreviam compulsivamente no caderno, sobre as impressões da aula de Teorias da Educação. Escreviam sobre o texto "Os sentidos da paixão", escreviam sobre o escrever.
Porque escrever na leitura (Barthes) não é somente escrever no ler, mas também no ler de ouvir. Ouvir-ler e escrever. Teclar. Reorganizar. Repensar. Refletir.
Se antes o texto estava solto na leitura, na aula movimentou-se, amarrou-se e soltou-se.
Falar das várias faces do amor. Que desafio! Amor que é múltiplo, descontínuo, que se relaciona com a palavra e que se relaciona com a arte de ensinar: a docência. (é mesmo uma arte?)
Mais uma vez, em mais aula, a proposta é ousada. Usar o texto como ponto de partida, como provocação, não repetição. Não sintetizar, mas pungir. Deixar vir. E as impressões vem ferozes.
Os dedos teclam continuamente nos pensamentos, ansiosos, a escritura nem dá conta.
Juliana, a responsável pelo texto, fala de Platão, Sócrates, citados por Peçanha, Platão (ou Socrátes, já não sei) provoca a riqueza da não-linearidade. (deslinearidade? inelinearidade? inlinearidade?)
Da reflexão que afasta o leitor, afasta o autor e renova energias. Retoma.
Sandra (a desbocada de ontem) é lembrada. Mesmo em sua ousadia, há preocupação com o leitor. Há? Mesmo num não-texto?
Coloca-se: aquele que recusa, foi aquele que antes aceitou. Aquele que recusa o lugar é porque deixou de lá residir. A morada é outra. Está lá para provocar. Para não-estar. Para provocar o não-estar.
Como transportar para a prática pedagógica? Como vincular? Como?
Vamos aos recortes de Platão.
Horizontal substituído pelo vertical. Método que importa mais que os conteúdos doutrinários. Processo que importa mais que resultado?
Platão insere em seus diálogos, assuntos "descozidos", diz Peçanha. Assuntos para cozinharmos.
Não procurar as respostas, encantar-se com o debate. Procurar o que constituiu os debates. Não considerar uma origem única. Há vida anterior, mas partir de algo. Qualquer algo. Ou algo possível. Um estudo que não defina a educação, que não feche, mas abra.
Provocar o exercício da fala, diz Lúcia, a professora. Porque o docente não é o que fala, mas o que provoca a fala. (os dedos escreveram: Estarei eu fazendo isso? Eu, que tanto falo?)
Que poder é esse, libertador que tira do outro a fala? Poder dado ao docente, por formar-se? Preparar-se? Estamos mesmo preparados?
Talvez o agir deva ser depois do vir. Deixar vir. Que o outro fale. Que o discente fale. Então agir. Mediar como media o amor. Mediar entre homens e deuses. Aproximar. Complementar como se complementam os casais apaixonados. Quando juntos, unidade.
Não aquele amor selvagem, irracional, onde habita a paixão. Que não é unidade, pois come um ao outro. Destrói. Machuca. Corrói. Amor-paixão ardente. Sede incontrolável. Vício. Prazer!
Mas amor filosófico. Das ideias plenas. Amor que inunda o ensino que não é mercado. Que não prova. Que não escolhe. Que reside em qualquer lugar. Amor que conhece. É conhecimento. Porque tem sede, porque busca. Amor-professor.
Um amor que provoque em nós mesmos, reflexão.
Que o conhecimento encante, como encantada estava a plateia de Socrátes.
Conhecimento na provocação, nos argumentos dispostos num tabuleiro, sem esperar xeque-mate. Jogar eternamente. Assistir eternamente. Conhecimento inalcansável.
Movimentar reflexões. Abrir. Re-abrir. Não fechar!
Não fazer o que a multidão quer, nem que a multidão seja de radicais. Seguir a intuição?
Aqui recorto o texto, palavras, reflexões. Recorte corajoso. Perigoso. Gostoso.
Não pretendi sintetizar, simplificar, argumentar. Joguei comigo mesma, com o outro, com todos.
Joguei com as palavras, com os sentidos. Fiz das impressões, poesia. Apontei o lápis. Apontei os dedos. Apontei a escrita. Que se desgasta, se renova. Recomeça.

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