sábado, 30 de outubro de 2010

Sobre citações no texto e na fala

Curioso quando lemos um texto e lá está ela: a citação direta ou indireta.
Até parece que todos os autores que lemos, ficam colados na memória de imediato.
Até parece que sabemos sempre pronunciar seus sobrenomes, sabemos as páginas de cor e o ano da publicação.
Até parece que o texto corre realmente solto, se não fosse esse detalhe tão (des)necessário.
Às vezes deixamos fluir, ignoramos as referências, mas ao final de muitas páginas, o trabalho de separar o "deles" do nosso, fica ainda mais difícil. Fui eu que pensei isso ou ele pensou? Eu posso me apropriar disso ou não? Passou de quatro páginas, faço recuo? Melhor citar que articular com as próprias palavras?
Na necessidade da citação e de formalizar nossa escrita, surge outro texto, editado, organizado e enquadrado. Aquele texto livre, leve e solto, tão bem (ou mal) articulado, dá lugar aos sobrenomes conhecidos (ou desconhecidos), anos, páginas, editoras, traduções e afins. Os recuos se fazem necessários e o texto fica desconfigurado. A formatação quase nos denuncia de apropriação. "Ei vejam, neste recuo não fui eu que disse, foi ele!"
Como se a colagem de um "pedaço" de autoria tivesse um peso maior que a construção suada de quem escreve. Como se o "pedaço" não estivesse descolado do seu contexto original e inserido em outro contexto, não ganhasse um novo olhar, uma nova abordagem.

Eu prefiro a citação da fala, pois é espontânea, natural e verdadeira.
Realmente nos esforçamos para lembrar da origem de nossos pensamentos, mas às vezes eles são crianças levadas, que roubam nossa ordem e correm descontrolados na desordem.
Para citar é preciso brincar de pega-pega, correr atrás dos pensamentos levados e organizá-los da melhor maneira possível, colocando cada coisa em seu lugar, em meio às risadinhas, pois não há quem escreva, que não espie a cola dos nomes. Para citar é preciso espiar, pois ninguém guardaria na memória tantos detalhes desnecessários.

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