terça-feira, 31 de agosto de 2010

Escrileitura: talvez sim!

Diante dos dedos incansáveis da minha mente, teclando no meu pensar extremamente agitados, escrevendo reflexões e causando uma inevitável explosão de novas ideias, unidas a sede de escrever sobre tamanha experiência reveledora na conferência, palestra, aula (seja lá o que foi aquilo), estou eu aqui mais uma vez, inaugurando inspirada, a terceira semana na experiência de "mestrar". Dedos estes que teclam na mente, porque teclar é escrever. Quem lê, escreve. E escrever não é só no papel, também escrevemos na leitura como diria nosso mestre Barthes. Ao ler, levantamos a cabeça, os olhos, o pensamento, não porque interrompemos nossa leitura, com distrações (o que também é comum), mas porque ela nos faz escrever no pensamento algo que nos tocou no texto, que nos fez sair pra pensar. Tocar nem sempre é bom, como a música que "toca o coração". Tocar pode pungir. Ferir. Mas ainda assim, fazer-nos refletir. Nossa leitura, é única e individual. Ler é escrever. E escrever é bom! No mestrado é! (em partes).
Terça-feira, 31 de agosto, último dia do mês, suposta aula do Profº Wladimir, estudos sobre Barthes, substituída propositalmente por uma aula-conferência, abertura de consciência, inconsciência, ência, da ousada Sandra (não me recordo sobrenome), em sua proposta de escrileitura.
Mais uma vez me deparei com os fantasmas da graduação. Meus professores Manuel e Felipe, "seguidores" do Barthes, Foucalt, Kant, Nietsche e afins, que tanto me atormentaram, insistindo no não-texto, no falar o que não é falado, no texto que não busca sentido, forma, método, mas que provoca, propõe, ousa, destrói, reconstrói, rói. (as rimas pulsam, inevitável).
Lá estava ela, Sandra, desbocada, atormentando minha mente com suas palavras. Propondo uma nova escrita, a partir da "matéria" que construiu de forma sólida, citando todos os autores anteriormente citados e muito mais.
Leu o que chamou de conferência. Leu por um tempo. Bom tempo. E nesse tempo, escrevi a primeira frase captada: "Como superar o bloqueio da página em branco?". Anotação clichê, segura, porque seria uma ousadia tentar acompanhar suas articulações. Olhei em volta, pareceu-me que só eu boiava em alguns momentos. A construção tão intensa que ela projetava na sua fala afloreada, dificultava minha compreensão. Pensava "Eu entendi o que era pra entender?" Acho que se eu perguntasse em voz alta, ela diria "Não importa. Reconstrua a partir disso!" Feroz e cruel. Chicoteou minha mente. E os dedos começaram a teclar. Borbulhavam questionamentos, ideias, reflexões, conceitos. Todos familiares, mas com um toque de maturidade. Maturidade que talvez só tenha adquirido ao deixar o curso. Deixar porque quando se deixa um curso de graduação, se deixa com a sensação "poxa, agora que estou pronto!". Ao final da experiência, admite-se a inexperiência. Quase como ousar dizer "quanto mais sei, nada sei!"
Quase como começar a entender do não-texto, mais ainda assim agarrar-se ao seguro e confortável. Questionei-a. O dedo físico fazia cócegas, precisava perguntar: "Sandra não achas essa escrita solitária?" Sim, solitária, questionei eu, porque escrevo sem buscar um sentido, escrevo sem me propor a construir, escrevo pra desconstruir, desapegar, desvincular. Escrevo propondo um problema e não uma solução. Escrevo pra provocar, instigar, fugir, falar do que não deveria falar. E o que acontece com aquele que lê, se assim eu for escrever? Pensei eu. Depois de tanta leitura, escrevo criando a minha escrita, propondo a minha leitura, fugindo do conforto e seguro. Desapegando-me dos clichês e jogando-me no caos. Escrevo na incerteza da aprovação, do retorno, da aproximação. Se minha postura for assim tão radical, não afasto aquele que lê? Se ele não deter da mesma condição, não serei eu solitária? Morrerei com minhas palavras. Ainda que ousadas. Morrerei com o meu não-texto. Eu quero morrer? Não mato assim uma oportunidade? Quem há de me responder? Nem Sandra. Nem Felipe. Nem Manuel. Nem Barthes, Kant, Foucalt, Nietsche e afins. Procurarei eu uma resposta. A minha resposta. No meu tempo. Confessei minha resistência. Ou não-resistência. Eu permito, mas não entrego-me tanto. Talvez esteja no caminho. Talvez comece a entender. Entender que os dois são necessários. Um caminho e nenhum. Opostos de naturezas fundamentais. Complementares Até porque, como Sandra diz, para fazer este exercício, para fazer como o ceramista que possui uma matéria para destruir, também precisamos de uma. Então a leitura é fundamental! A construção também é fundamental. A base. Para então, como uma criança que molda um castelo na areia, pisarmos sem dó. Sem choro. Coisa difícil. Desapegar. Justo eu, justo pra mim. Tão apegada a tudo e todos! Não pela matéria, mas pela segurança, conforto, amor, convicção.
Sandra diz ser uma tensão. Com algum fundo de razão, preocupação. Afinal trabalhar com educação, assim como na vida, não conta com manual de instruções. E o "quem" que criou tudo isso, faz piadinha de nós, porque nada é facilitado. Somos manobristas diários, manobrando adversidades, buscando uma prática. Quem ensina, aprende. Quem ensina, tenta, erra, acerta. Quem ensina...desencontra. Encontra. Reencontra. Quem escreve também.
Para Sandra o texto não se encerra, mas perpetua, prolonga, permite.
Dados não devem ser encarados como verdade, porque o "artista" é a antena do seu tempo. S-E-U tempo. Como Piaget e Freire darão conta da infância de hoje, se escreveram sobre a infância do seu tempo? Naquele tempo. Não que não seja válido, mas não é o único caminho, não é uma verdade absoluta. É uma possibilidade. Sandra propõe com isso que se experimente, provoque e desconstrua. Que paremos de repetir. Somente de citar. Que possamos construir a partir da descontrução. Colocar nossa visão. Entregar-nos. Forçar a pensar o que não pensado, difícil exercício de exaustão, cansaço, esgotamento. Sair do próprio umbigo. Criar uma nova sensibilidade e com ela uma nova forma de pensar. Tentar não falar somente do seu tempo, mas de um tempo por vir. Fazer da própria existência, uma obra de arte. Entender que o aprender é desaprender.
Que o artista é criação. Criação que está nas Artes, Ciência, Filosofia. (segundo Sandra, citando Nietsche). Que o verdadeiro artista é transgressor, inventor. Cria problemas, não soluções. E aí reside minha luz. Aquilo que foi despejado em mim e eu rejeitei por tanto. Vomitei. Renunciei. E aqui estou eu, recolhendo esse vômito. (uso de empréstimo o "desboque" de Sandra). Fazendo dele minha nova refeição. Tirando o nojento e o feio, ou colocando-os, tentando enxergar o que não é pra ser enxergado. (você se enojou com estas palavras? Ótimo. Faça isto com a leitura de tudo. Vomite, recolha seu vômito e coma).
Ousadia é dureza, rejeição, desconforto, falta de aceitação. Reside no preconceito dos medíocres. E eu fui muito medíocre.
Não que eu concorde com tudo, que isso facilite pra mim, mas eu gosto. Estou gostando. Começando a gostar.
É difícil. Por isto aqui estou eu. Tentando. Entregando-me às palavras, aos pensamentos frenéticos, dando leveza ao dedos-tecladores e permitindo-me.
Tentando usar as palavras numa tentativa cada vez mais difícil, pois "mestrar" enfraquece o discurso, já que as palavras perdem o sentido, quando se desapega deles. Elas tornam-se lisas, puras e é difícil o exercício de não poluí-las, impregnar verdades, conceitos prévios, pensamentos de pensadores.
Aqui estou eu, tentando brincar com as palavras, minhas palavras. Aqui estou eu, talvez, ousadia da minha parte, propondo a minha escrileitura. Minha escrileitura de Sandra. Desbocada Sandra. Nesta terça-feira, 31 de agosto.

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