quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Considerações sobre algumas leituras recentes...

No terceiro encontro de orientação de dissertação, minha orientadora me indicou a leitura destes 4 textos, e compartilho abaixo com vocês, algumas considerações:

Obs.: Todos possuem versão PDF on-line gratuita.

PUBLICAÇÃO PERIÓDICO: Educação e Realidade.

“Um cinema que educa é um cinema que (nos) faz pensar!” – Entrevista com Ismail Xavier

Considerações: Após esclarecimentos diretamente com o autor, entendo que ele fala de um cinema do tipo ensaio-filme, que instiga a pensar, promove a reflexão, sem buscar apenas um caminho ou uma possibilidade, mas o despertar de um novo olhar, de uma nova forma de enxergar. (punctum – obtuso de Barthes). Contrariar o “senso comum” – o óbvio.

Considerando suas colocações na palestra da semana de cinema, não há um limite para um cinema de arte e indústria, pois esta reflexão pode partir da experiência sensível do espectador, mesmo em filmes que seguem padrões mercadológicos. E isto me fez pensar sobre a importância da mediação. Lembrou-me do documentário do Leandro e das possibilidades amplas de leitura, justamente por não buscar uma montagem dialética precisa, por compor aleatoriamente as imagens da tribo indígena vinculada à narração, ampliando ainda mais as possibilidades de leituras, sem a presença de uma mediação. (talvez um filme americanizado não permita sozinho esta abertura, mas uma mediação pode ampliar o olhar).

E quando ele comenta sobre o “sabedor de códigos”, entendo que ser um sabedor de códigos não é suficiente, porém é no mínimo necessário. No próprio texto da Heil, percebo que ela preocupou-se em entender os códigos para criar sua proposta de análise fílmica, porém não significa de fato que compreenda os códigos. Não basta apontar para um filme e dizer “veja, é um plano-detalhe”, mas perguntar-se “porque um plano-detalhe?”. É necessária a relação entre o código e seu uso. O código e seu contexto, autor, proposta. Ainda que seja apenas uma leitura possível, é mais significativa que deter-se a um mero conhecedor. É preciso “compreender”!

Nesse sentido entendo a Mônica quando me dizia que saber os códigos não é o suficiente, mas reforço, como Xavier em seu e-mail, que é o mínimo!

“Cinema e educação: um caminho metodológico” – Eli Henn Fabris

Considerações: Pobre e ingênuo. Quase não consigo aproveitar nada do que ela traz.

Antes de se propor a tal pesquisa, a leitura de “Ensaio sobre análise fílmica” se faz necessária, pois muitas das suas colocações me pareceram ingênuas e sem citação. Vanoye já falava bastante sobre o valor do contexto, da necessidade do domínio dos códigos e da própria história do cinema, mas o artigo me mostrou uma pesquisadora ingênua, que talvez até conheça os códigos, mas não significa que compreenda. Tanto citou que viu e estudou filmes, mas não foi capaz de citar nenhum. Não fez nenhuma síntese de leitura. Pareceu-me preocupada em provar sua base, falando de sua constante busca pelo saber específico do cinema, pela pesquisa, pelo domínio dos códigos, enquanto linguagem, mas não como expressão, reflexão, análise.

Identificar um plano não é analisar. Decupar minuciosamente um filme não é analisar minuciosamente. Seria apenas descrever. Não pareceu haver nenhum tipo de reflexão. Espectadora-colegial, que sabe os nomes, mas ainda não sabe relacionar, compor, entender, questionar, criticar. Para criticar um conceito, ideologia, valor, é necessário conhecê-lo, porém é ainda mais necessária experiência, reflexão, leitura, relação entre os saberes.

Está certo que ela não me trouxe nada de sua síntese, porém é aí que reside a fraqueza do seu texto.

PUBLICAÇÃO PERIÓDICO: CEDES - Unicamp

“Mídia e juventude: experiência do público e do privado na cultura” Rosa Maria Bueno Fischer

Considerações: A autora começa falando da tendência crescente da exposição pública, diante das redes sociais e dos canais de publicação de vídeos, como o youtube. Ela atribui esse movimento à sociedade capitalista e regimes totalitários, que aniquilaram a individualidade humana, reprimindo a espontaneidade e a criação humana, formando uma “massa” coletiva. Aqui lembrei-me de Nietzsche e da Educação Moderna, sobre a formação do homem civil, de boas maneiras, domesticado, condicionado num “rebanho” e controlado pelo governo e por um regime político voltado para a finalidade, produtividade, consumo e utilidade.

Neste sentido, ela comenta dos produtos de cultura de massa, no caso o cinema, fonte de lazer e informação, apresentando o “mundo para o mundo”, ou “o Brasil para o Brasil” como visto na Era Vargas/Roquette-Pinto do cinema educativo. O poder de comunicação do cinema a grandes distâncias é enorme e por isso é também perigoso, pois vende “falsas verdades” se não houver mediação e reflexão.

Rosa ainda fala sobre a necessidade humana de “vencer a lógica da morte”, como fala Bazin, através das expressões audiovisuais. “Aprender a morrer”. Por isso, é necessária a reflexão e problematização de como essa sociedade que necessita se expressar, ser ouvida e vista, está construindo e lendo as significações que estão sendo construídas pelas mídias. Como estamos sendo representados e como estamos consumindo estas representações. Ela dá o exemplo do jovem-Malhação e das relações entre juventude e sexo, drogas, instigando a reflexão de “nós/deles” mesmos, muitas vezes criando padrões de comportamento ou situações inverossímeis com simplificações e abordagens superficiais de assuntos complexos e subjetivos. Ela comenta sobre Foucalt e o paradoxo liberdade/controle. (talvez o próprio professor-pipa do Nietzsche).

Com tudo isto, ela ressalta da importância da reflexão da forma como nossas narrativas de vida estão sendo narradas. Como estamos sendo narrados e representados, até porque muitos valores acabam se incorporando a nossa forma de “ver” o mundo, por inconscientemente assumirmos uma mera representação como verdade “absoluta”. É importante problematizar tudo que nos rodeia, pois é no discurso, na exposição do pensamento, opinião, que mostramos quem somos. (até para nós mesmos! – Ex.: Videoclipe dos alunos na Escola). E além do debate, transformar essa “visão” de mundo, através da criação.

“Decifra-me ou devoro-te” – João “Alegria”

Considerações: Alegria parece dar continuidade às preocupações de Rosa, pois fala do poder que a televisão tem em influenciar comportamentos e formar o senso-comum, tão duramente criticado por Nietzsche já no século 17. Esse senso-comum e desejo coletivo de consumo acaba influenciando inclusive classes mais baixas, que não conseguem pelos meios legais adquirir os objetos de desejo e partem para caminhos alternativos, no caso, ilegais, como contrabando, roubo e tráfico de drogas, encurtando o caminho para a desejada “vitória”. Porém ainda que as mídias, no caso a televisão, tenha este lado negativo, há também o lado extremamente positivo de permitir a comunicação entre os povos, a partir das novas tecnologias e todas suas facilidades de acesso.

Por isso, Alegria incentiva o uso das mídias na escola, reforçando uma mediação, e da participação expressiva da criança na composição dos produtos audiovisuais. Ele questiona se os inúmeros projetos que surgem para capacitação de jovens e crianças de fato valorizam o poder de criação dos jovens. Não é somente capacitá-los para que saibam fazer uso das mídias, mas instigá-los a criar, pois se eles criam, podem contribuir para a produção de mídias e transformação de um padrão já estabelecido. Este jovens podem expressar sentimentos e situações, muitas vezes marginalizadas ou ignoradas pela mídia, ou ainda esteriotipadas constantemente no país, como políticos corruptos, violência urbana, desigualdade social. Alegria incentiva a liberdade da criação. Valorização das narrativas pessoais e coletivas. Explorar produções, envolvendo as crianças e jovens em todo o processo.

Com isto, Alegria problematiza as metodologias que tem sido empregadas atualmente em projetos de uso das mídias.

Aqui pensei em vários projetos que já vi no FAM, por exemplo, em que as crianças tem idéias, até roteirizam, mas são profissionais que gravam e editam. Elas apenas fazem parte de uma etapa do processo. Se antes eu julgava possível, na prática vejo que os alunos ganham muito mais, explorando todas as etapas. O importante não é o resultado, mas o processo e as falhas que se apresentam como grandes oportunidades de aprendizado. A edição por exemplo só se desenvolve de acordo com a necessidade e se aperfeiçoa com a prática, por isso desafiá-los a editar é desafiá-los a aperfeiçoar suas habilidades de criação e capacidade de escolhas.

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