quarta-feira, 11 de maio de 2011

"No mesmo barco: ensaio sobre a hiperpolítica" de Peter Sloterdijk

"Política é a arte do possível!"

Uma frase. Muitos desdobramentos possíveis!

Ainda com as ideias e conceitos desordenados, consegui pescar algumas coisas com a esperança de ter entendido pelo menos algumas passagens dos escritos do autor. Em geral, acredito que o que vivenciamos hoje em relação à política, cada vez mais insustentável na estrutura em que se encontra e o constante individualismo da humanidade, segundo o autor, eram inevitáveis de acontecer. A humanidade caminhou para este destino desde o princípio, e com vocabulário rebuscado, desconstruindo palavras e conceitos, trazendo outras vozes, Sloterdijk nos conta essa trajetória com bastante coerência.

Ao ler um texto complexo, não acho possível compreender tudo de uma vez só, por isso destaco aquilo que me saltou aos olhos. Destacar algumas passagens e impressões em leituras de mestrado me parece um exercício importante e até necessário, quando surgir a necessidade de revisitar algum trecho e não houver tempo de revisá-lo por inteiro.

Quando o autor nos fala que "o mito de Babel apresenta a expulsão da humanidade de um paraíso unitário, cujo conteúdo político poderia se caracterizar por um nome: consenso." Me fez pensar na impossibilidade de haver consenso entre todos nós. Somos tão diferentes, com visões tão múltiplas, então como pensar da mesma forma e querer as mesmas coisas?! Basta observar a grande polêmica que se estabeleceu no Senado com a questão da legalização da Homofobia. “Deputado Jair Bolsonaro e senadora Marinor Brito trocam ofensas após sessão” noticiou o jornal. Independente de que posição eu possa assumir, cada um tem seus motivos e verdades, que defendem com unhas e dentes. Assim como eu acho que um é completamente irracional com seus argumentos, outros pensam justamente o mesmo daquela que eu apoiaria. “O mundo é tudo o que é, para o ilhéu que vive em harmonia com os outros; verdade é aquilo a que se pode conectar a partir da ilha; o que não pode ser para o ilhéu, nunca terá sido.” Talvez por isso, nenhuma decisão consiga ser tomada. Cada um acredita na sua verdade. Não há consenso, infelizmente! (ou felizmente?!) "Quanto mais tempo acumularmos experiências com quem pertencemos, tanto mais clara aparecerá a evidência de que não temos qualquer capacidade de pertença” e a “mais primitiva forma do pertencer-se coletivamente é transmitida pela arte de deslocar pessoas para um interior comum e ampliado”.

Partindo do pressuposto de que “política é a arte de organizar os laços ou forças de ligação que abrangem grupos de até milhões de membros, e para além disso, numa esfera de elementos comuns – seja o elemento comum nefasto do sofrimento sob a tirania ou o elemento comum saudável de uma cooperação entre pessoas competentes na democracia”, Sloterdijk parece nos dizer que esta arte hoje, é a da impossibilidade.

A humanidade parece estar sempre num jogo de idas e vindas. De apegos e desapegos. Um ciclo contínuo, não em círculo, mas espiral. Existe a necessidade de crescer, evoluir, mas com ela vem o sofrimento, necessário para o equilíbrio, já diria Jung. Nietzsche, bastante referenciado no texto de Sloterdijk, trouxe uma passagem fundamental, que me faz pensar sobre educação. Dizia “que nós plantamos, para que as gerações futuras possam colher”. Não há como saber o resultado do que fazemos hoje. Talvez não importe o resultado, mas sim o processo. Então, num mundo onde reina a impossibilidade da política e do consenso, como educar? Como governar? Como viver em sociedade? Viver em harmonia é e será possível?!

Há duas passagens sobre amizade e reflexão, extraída da filosofia grega, que achei muito interessantes: “a melhor vida consiste em trocar com amigos todos os dias, algumas palavras sobre as grandes coisas.” Seria filosofar? Refletir sobre as coisas e o mundo? Estaria aí a grande motivação para o mundo “girar” em espiral?! Não parar de pensar sobre as coisas, ainda que estejamos vivendo numa era do não-pensar?! E não só pensar, mas pensar entre amigos, entre aqueles onde há afinidade, pois “amigos são homens que, em seus caminhos pelos altos e baixos do Grande, se interpenetram”. Refletir e trocar. Transformar?!

Neste sentido, refletir também poderia significar sofrimento. “Viver na cidade para muitos também significa sofrer com a cidade” e “não se educa o homem que não sofre flagelos” (Goethe). Refletir é sofrer? Refletir é transformar-se? Todos querem e gostam de refletir? Sloterdijk diz que a dor, na grande civilização age de formas diferentes. Em alguns é “estimuladora” e em outros “obstruidora”. Para uma minoria, a carência tem efeito educador e para maioria, age como destruidora de almas. Duas naturezas fundamentais opostas, em possível conflito. Seria a metro-política? Uma inevitável tensão entre centro e periferia? Para governar então, e exercer política, não seria preciso abstrair-se?! “O homem político é aquele que apresenta e representa o poder”. “Só quem praticou de perto o separar-se pode representar o abstrato”. Isto exigiria um “sacrifício da alma”. Seria esta a explicação dos constantes casos de corrupção? A abstração é tão grande que acaba também eliminando o senso do coletivo?

Num mundo onde tendemos ao desprendimento, inseridos em ambientes virtuais, criando e usufruindo de mecanismos que trazem cada vez mais conforto e autonomia, como querer pertencer? Não buscávamos autonomia? Liberdade? Desprendimento? Parece então, improvável viver o coletivo, se o que todos querem é viver o singular. Ao desapegar-nos de Deus, do Estado, da sensação de unidade, e lutarmos pelo múltiplo, pela autonomia e liberdade de pensar e agir, carregamos conosco o fardo, o paradoxo de viver. “Onde quer que surja algo politicamente Grande, certamente haverá um contra-peso por perto”. Ao desejarmos viver desta forma, impossibilitamos a convivência do coletivo em sociedade, então parece natural haver tantos conflitos. Poderia ser diferente? Deveria? “Pós-modernidade é a época do ‘depois de Deus’”.

“De fato, não sabemos que tipo humano seria necessário para preencher os espaço vazios, e que treinamentos devem ser desenvolvidos para que seja reduzida a enorme lacuna entre a forma mundial global e as psiques locais” e “partes consideráveis das populações virarão as costas, com indiferença, a tudo que é político”. (já não viraram?!) “É bom preparar-nos para combates seculares entre as regiões do mundo moderno-globalizadoras e as conservadoras-resistentes”, afinal “num mundo sem forma e numa sociedade sem identidade, são maciçamente tramadas retomadas, renascimentos e reconscientizações de valores antigos”. (uma luta de valores? Aprovar ou não a lei contra a homofobia? Quem é melhor que quem?!)

Talvez a “cura” seria voltar a apegar-se. “A arte do pertencer-se só pode recomeçar a partir das pequenas ordens.” A salvação da humanidade estaria em pequenos grupos. Seria o “semear” de Nietzsche?! E uma possível “anarquia”?! Sloterdijk diz que observando o percurso da História da Humanidade, pode-se aprender duas coisas: “as tentativas de produzir comunidades em grande escala acabam em totalitarismos” e “um descuido das pequenas unidades, deve, a longo prazo, levar a becos psico-patológicos”. O autor diz ainda que “falta à teoria e prática, implantação de uma política para uma era sem impérios”. Seria esta a hiperpolítica?

“Uma sociedade hiperpolítica é uma comunidade de desafio que no futuro também apostará no aperfeiçoamento do mundo; o que ela tem a aprender é um meio de transformar seus ganhos de tal forma que depois dela ainda poderá haver ganhadores.” Talvez ensinar a semear! Ensinar a continuar refletindo, inquietando-se e com estas inquietações, manter a vida em “espiral” rodando!

"Teorias da Comunicação"

breve.

"A delicadeza" de Denílson Lopes

breve.

terça-feira, 1 de março de 2011

1ª Capacitação do CDI para Educadores 2011


Hoje terminaram as atividades presenciais da capacitação que eu estava fazendo no CIEE para o CDI - Comitê para Democratização da Informática.

Foram cerca de 7 dias de trabalhos intensos, das 13h às 18h, com palestras, dinâmicas, atividades à distância, lanchinhos, "conversinhas de corredor" e debates sobre vários assuntos associados à inclusão digital e metodologia do CDI.

Foi uma experiência bem bacana e uma oportunidade de conhecer melhor o trabalho que a ONG faz, contribuindo para projetos de inclusão digital, além de conhecer uma galera "sangue bom" e empenhada em fazer do seu trabalho, uma oportunidade de futuro melhor para nosso país.

Infelizmente não poderei assumir nenhuma função no momento, nem de educadora ou assessora, por estar com viagem de lua-de-mel marcada em abril, mas espero que os contatos e parcerias feitas, possam me trazer bons frutos futuramente!

A experiência contribuiu inclusive para rever meu projeto de pesquisa do Mestrado e alterar meu vocabulário para "inclusão digital através do cinema". Será?!!

Energia renovada para a volta às aulas e leituras densas, depois de uma maratona desgastante de prepativos pro casório que acontece dentro de 1 mês!!


UFSC aqui vou eu!!!! =)

Para saber mais:

CDI
- Criado em 1995, ano em que a internet chegava ao Brasil, o Comitê para Democratização da Informática – CDI tornou-se pioneiro no movimento de inclusão digital na América Latina e um dos principais empreendimentos sociais no mundo, com uma abordagem socioeducativa diferenciada e um modelo único de gestão, visando à sustentabilidade do projeto. É uma organização não-governamental que utiliza a tecnologia como ferramenta para combater a pobreza e a desigualdade, estimular o empreendedorismo e criar novas gerações de empreendedores sociais. Atende cerca de 13 países e possui mais de 20 escritórios no Brasil. A Rede CDI estende-se aos lugares mais remotos da América Latina e do Brasil, como a Amazônia, beneficiando pessoas de diferentes faixas etárias, culturas, raças e etnias.

Contatos em SC:

Site: http://cliquefuturo.org.br/ e Blog: http://cdisantacatarina.blogspot.com/

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Twitter - fragmento virtual

Janeiro de 2011. Verão. Calor.
Mestrado sem bolsa e recesso escolar: trabalho temporário necessário.
Escritório de advocacia do André. (meu noivo)
Secretária.
Tranquilo. Café, telefone, scanner, xérox e organização.
Internet. Google. Twitter.
Fragmento. Agilidade. Compulsão.
Vício.
Hoje de tarde desci pra fazer um lanche com o André e tinha passado a manhã inteira (e comecinho da tarde) sozinha no escritório pesquisando textos do mestrado (impressão), atualizando blogs, visitando o blog de outros, escrevendo pra amigos no facebook (eles não usam mais orkut - snifis Mark!), checando a caixa de e-mails (que anda meio parada) e tuitando compulsivamente.
Como não costumo falar sozinha (e não há nenhum cachorro ou planta aqui pra servir de desculpa), fiquei muito tempo quieta, mas falando mentalmente pelo twitter tudo que se passava na minha cabeça e que me interessava postar. (com esperanças de respostas - TT, e às vezes me apavorando com quem posta o Nada ou o o que parece Inútil, tipo...ai que sono vou dormir! - falando sozinho talvez? pensando alto?)
Com a Era Digital, e sendo o twitter um forte exemplo disso, o pensamento parece um dedo frenético teclando na mente tudo aquilo que se passa diante da nossa vida e é possível captar e teclar virtualmente. Pensamos assim ou passamos a pensar assim, mais rápido, para dar tempo de teclar?? (como a minha dúvida sobre imaginar, sonhar ou reconstituir um fato importante da vida depois que o cinema criou a câmera lenta)
Enfim, falado sobre a saída para o lanche, notei que minha cabeça ainda estava presa aquele jeito "twitter" de pensar em fragmentos e comecei a conversar freneticamente com o André e ele pedia pra eu repetir o que eu estava falando porque não estava entendendo nada. Eu começava falando de um assunto e terminava em outro.
Notei que eu estava falando em fragmentos. Na verdade, quase em 140 caracteres.
O treino em tuitar as informações (em pouco espaço disponível) tem sido tão intenso, que tenho feito clipping (termo jornalístico) dos meus próprios pensamentos. Com mais ênfase e menos formal, notei imediatamente que por passar tempo demais no twitter, tenho "garimpado" palavras-chave dos meus pensamentos para falar o que quero, porém numa conversa presencial, em que o tempo não acompanha o pensamento, pelas inúmeras distrações, ela se torna inviável.
Como é possível conversar em fragmentos no twitter e pessoalmente a conversa fragmentada se tornar tão confusa?
E antes mesmo de começar a usar o twitter compulsivamente, eu já falava em fragmentos, por tentar dar voz à tudo aquilo que se passa e passava na minha cabeça. Ou seja, uma total desordem que precisa ser ordenada pelo receptor da mensagem, já que ele não conhece a origem da informação.
Sempre tive lapsos de falar pedaços de assuntos e como a pessoa não entendia, eu me tocava que precisava explicar o resto, o contexto, pra mensagem ficar mais clara.
Com isto, usando compulsivamente o twitter há apenas 5 dias e timidamente há menos de 1 mês, tenho me apavorado com os efeitos que ele causa em mim e nas conversas que tenho imediatamete após seu uso.
Se já sou uma pessoa compulsiva, que fala rápido, que devaneia sobre vários assuntos e tem super concetração, ao mesmo tempo que dificuldade em se desconcentrar, significa que o twitter pode ser maléfico de alguma forma (?), a ponto que tenho dificuldade em não usá-lo?
É possível ser um novo vício? Como coca-cola, cerveja, chocolate e orgasmo?
É quase como encontrar um lugar de loucura. De falar sozinho (tipo escrever bom dia quando acorda, como se alguém fosse sempre responder!) e não se sentir maluco se ninguém responde e ao mesmo tempo achar que só porque uma pessoa não te responde, não quer dizer que não te leia ou que ignore tudo que vc fala. (as estatísticas do meu blog de cinema me revelaram isso com 1100 visualizações de uma matéria postada há apenas 3 meses! E meu blog não é popular, por isso acho o número alto!)
Na real, tenho achado tanto o facebok quanto o twitter o novo "falar no msn em grupo".
O problema é que nem sempre quero que todos os add participem da mesma conversa!

É uma suruba de conversas, todo mundo lendo e participando na conversa de todo mundo. E diferente do orkut, parece não haver "proteção" nenhuma (camisinha?). É o momento pós-humano bombando virtualmente!

E o mais engraçado é a quantidade de "cosquinhas-preciso-postar-isso" que vejo os outros sentirem, sem talvez me excluir desta.

É a quebra de privacidade absoluta, inclusive da privacidade de ser quem se é, pois revela, ainda que indiretamente, os gostos, interesses, desejos, traços de personalidade (agressivo, mal-humarado, revoltado, rebelde, sem causa, mentiroso, boçal, falso, malandro, fofoqueiro, fútil, superficial, culto, preocupado, simpático, egôcentrico, etc etc etc...), além de comprometer uma série de comportamentos e atitudes, às vezes incoerentes, já que o virtual é (quase) eterno - já diria a ex do Mark no filme "A rede social" de David Fincher.

Sei que já existe há algum tempo e talvez eu possa estar sendo repetitiva, mas o twitter me parece o coroamente chave de uma humanidade que se desprende cada vez mais do corpo e projeta sua vida, quase na íntegra, para o virtual!


Férias....

Ai ai...como as férias são boas....relaxar a mente, o corpo, os dedos...
Mas como é difícil voltar ao ritmo...
Num trabalhinho tranquilo de verão, ando adiando certas leituras...
A cabeça pipoca de ideias, mas nem sempre os dedos acompanham...
E tenho vontade de ler tanta coisa, quando tenho que ler determinadas coisas...
O lado bom dessas "férias" é pesquisar sobre mídia-educação...então até que há um lado bem produtivo de conhecer e usar o facebook, twitter e ter visto "A rede social" no cinema!

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Como viver junto...com Barthes....e todo o resto... (numa mesma refeição...)

por Alessandra Collaço da Silva

Três passagens. Páginas 10 e 11:

“Não haveria famílias se não houvesse algumas bem-sucedidas!”

“...conversar...”

“De quem sou contemporâneo? Com quem é que vivo?”

Barthes e a Educação.

Teorias da Educação.

Nada e tudo em comum. Um belo banquete para cozinhar.

Os autores todos conversam entre si.

Certo dia em rabiscos no caderno/blog eu dizia:

“Barthes querido, me desculpe, mas cansei de você. Hoje. Talvez só hoje.
Às vezes não sei te ler.
Inundas minha mente constantemente.
Vejo você em tudo e tudo em você.
Caso de amor, autor-leitor.”

(ally_c

Em plena primavera...comecinho...

Barthes não parecia novidade...

Conheci primeiro, mas tanto foi feito anteriormente...

Nietzsche, Kant, Montaigne, Rosseau, Dewey...

Todos falam/falavam da importância da experiência...

Todos falam...aos meus “ouvidos”...

Falam na minha leitura, sussurram baixinho, seus segredinhos...

Falam no Presente...na minha mente...nas relações e associações...

Todos se escrevem em mim ou sou eu quem os escreve?

Todos estão sentados diante do mesmo banquete...

O prato principal dessa vez é educação...

Cada um coloca seu ingrediente especial...

Cozinheira-amiga, eu mexo...remexo...

Nietzsche sempre leva pimenta...

E Barthes sempre experimenta...

A mesa está sempre farta...confusões de braços e discursos altos...

Alguns gritam mais que outros...querem que eu passe o prato...

Devaneios nunca faltam...e nem certos desencontros...

Conversas que se sobressaem...outras que se cruzam...

São raros os silêncios...talvez na hora de degustar o prato...

Talvez na hora de experimentar...todos nos nós silenciamos...eu e eles...

Alguns elogiam, outros falam “que diferente”, alguns vão embora sem gostar ou falar...

Não há um gosto melhor ou pior...apenas diferentes...

Alguns gostam mais de salgado, outros de doce, outros apimentado, outros suaves...

Não há verdade absoluta...mas verdades co-existindo...quaisquer verdades...

Verdades-ingredientes...que seleciono e combino como quiser...

Crio minha própria receita, convido quem eu quiser para minha própria refeição...

Sozinha ou acompanhada...

Mato o autor...nasço leitora...faço minha própria escrileitura...

Convivo com todos e com ninguém...convivo mal e bem...

Se sei conviver junto eu não sei...(mas faço rima como ninguém! =)